21 de dez. de 2008

O desejo de beijo



Tinham duas opções: ou ficar vendo filme na TV ou jogar boliche com um casal de amigos mais suas três crianças de 6, 9 e 12 anos. Fiquei com a segunda. Acredite: "o urso saiu da toca"!

Foi assim que ele, de barba por fazer, camiseta e tênnis surgiu no meu horizonte. Comecei a torcer por aquele que parecia estar a vontade entre os seus familiares. Risos altos, provocações entre seus pares. Entre uma jogada e outra, ele procurava meu olhar como sua platéia. Achava torcedora assídua, atenta a qualquer deslize ou com direito a cumprimento quando sua performance era merecedora.

Puxei bem o ar para meus pulmões, comprimi a barriga no vestido (pretinho básico) e, num passo pensado, levantei para jogar pela primeira vez. Era preciso me exibir também. Eu, mais familiarizada com a sinuca, fiquei surpresa com o grande peso da bola de boliche. E, no entanto, marquei (orgulhosos e memoráveis) pontos. (Risos)

Sabe quando começam a elevar o tom da voz, tal qual os pássaros soam deteminada música no ritual de acasalamento e, com isso, aparecerem, destacarem-se da multidão? Pois é, foi iniciado todo o ritual. Nessas horas eu (sinceramente) fico muito sem jeito. É a hora em que outros machos percebem que a fêmea está sendo provocada, tentada, cortejada.

Outro dia, pensava cá eu com meus botões, na tentativa de achar um motivo que me levasse a ser assim: despreendida no lado profissional e, abolutamente, tímida na esfera pessoal (...) Não cheguei a conclusão alguma. Noto apenas que na área do trabalho, exerço determinado poder (no sentido de terreno dominado) e na relação entre pessoas nem (quase) sempre tal controle é possível (ou desejável). Deve ser isso.

E, quando dei por mim, já estava ele na sua bermuda xadrez sentado ao meu lado (literalmente). O ar estava impregnado de expectativa de gozo. Não me pergunte como, mas sei que marcamos entre olhares e breves palavras, dele levar seus familiares embora e retornar para conversarmos. E assim o fez.

Ele retornara. Quando o vi entrar pela porta quis gritar: Yes! Sim, funcionou: o urso saiu da toca e continua vivo!

Pediu uma cerveja e buscou uma mesinha diante do cantor que se apresentava no pequeno palco à esquerda. Me olhava entre uns goles e outros. A concentração na mesa de sinuca ia cada vez pior. Quanto tempo irá durar essa tortura?, pensei. Afinal, não é nada fácil você estar ali entre várias pessoas sendo observada (e querendo ser observada) a cada passo que dá. Exige auto-confiança e um pouco de coragem também.

Na tentativa de resolver o impasse que já durava dez longos minutos, confidenciei a paquera com o casal de amigos (como se fosse preciso). A ajuda dos "universitários" foi imediata. Assim que retornei para meu jogo, eles o convidaram para se juntar a nós, sem eu saber ou gostar de iniciativa. Nada disso foi necessário: os planos já estavam traçados com começo, meio e fim.

Ele já tinha arquitetado de como seria sua volta e pegada. Deu mais uns goles na cerveja. Enquanto eu me esforçava em concentrar na sinuca, meu parceiro de jogo de 12 anos dizia: "-Paula ele tá falando com o garçom e apontando para cá (...)". Ele tá vindo (...)".

A minha torcida (amigos) além de entusiasmada sempre foi organizada, viram? Espiões, relações públicas, enfim, um time e tanto. (Muitos risos)

Me oferecendo algo para beber, seu braço tocou em mim e saiu faísca. Sabe quando os dois se tocam propositadamente sem querer?

Seu beijo foi quente, úmido, gostoso, de língua atrevida, invadiu.


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