17 de jan. de 2009

Blue Sky_V Parte_Dois dias antes

Quem entrasse na sala de Morgana, depois de vencer a eficiente secretária Anna, teria se visto num escritório decorado em tom sério.

À esquerda, via-se uma sacada, sempre fechada no verão por causa do insuportável calor, com apenas um balcão de metro e vinte, em jucá, invadido por códigos: civil, penal, processual civil, processual penal, nada de trabalhista. Morgana gabava-se sempre que podia: “- Eu em trabalhista sou uma cobra! Rastejo nota sete ou oito, no máximo.” Depois dessa frase deixava-se invadir pela gargalhada nas rodas dos advogados, procuradores, juízes, desembargadores, etc...

À direita, era donde se abria o espaço da sala. O carpete bege contrastava com os robustos móveis escuros. Apenas o sofá convidava o visitante para suas macias almofadas. Todo o resto impunha-se. A visão era basicamente de um sofá, atrás dele um aparadouro, diante dele as cadeiras – duas – dos clientes, depois a mesa e a cadeira estilo presidente de Morgana. Por fim do cenário estava a estante de livros e processos ainda mais atrás. Ao sentar-se numa das cadeiras da mesa e voltar-se para trás, como cliente, logo ali, sobre o aparadouro detrás do sofá, via-se Diké, imponente imagem esculpida em bronze.

Ali eram recebidos os mais rentáveis clientes. O escritório Freire & Trevor tinha como maior fluxo de atendimento às empresas, sobretudo na prestação de serviço na área tributária e fiscal. E, quando se consegue aproveitar as brechas da lei para favorecer as empresas, ou com incentivos fiscais, ou com diminuição no pagamento de impostos, acabamos por colher respeitabilidade e confiança. Colhemos ao longo dos anos, principalmente, fidelidade.

Por isso, em função deste semear vitórias, os proprietários destas empresas por nos atendidas, recorriam também ao nosso escritório, mesmo com demandas de prestação jurisdicional de ordem pessoal. Vinham e reuniam-se com Morgana, quase sempre em tom confidencial. Não raro surgiam ações de pessoa física, sobretudo processos que se valem do Código Civil, mas detidamente no Livro V – do Direito das Sucessões.

(...)

- Pela demora da reunião entre a Dra. Morgana e o Sr. Franchesco acho que deve ser alguma coisa pessoal. Ela nem chamou David ou Charles Lee. Fofocou Anna para mim quando perguntei se eu podia entrar na sala.
- Quem é mesmo que está com ela?
- Ah, o Sr. Francesco, como te disse. Francesco Cavassa.
- Cavassa? Ah, sim, me lembro dele. Ele em uma empresa de biotecnologia. Anna, assim que ela terminar a reunião me avise, por favor. Preciso de Morgana ainda hoje.
- Ok, tudo bem Dra. Paola, pode deixar que lhe aviso.

Anna é realmente perspicaz, pensei com meus botões. Se fosse caso na área tributária ou fiscal, certamente Morgana já teria chamado nossos contadores – David ou Lee. E, se a reunião estava sendo longa... De qualquer forma era preciso que ela passasse os olhos sobre o agravo de instrumento que elaborei sobre o caso de Michael.

- A julgar pela avançada idade do Sr. Francesco é bem provável que seja sucessão.., Pensei em voz alta caminhando de volta para minha sala.

Estive absolutamente concentrada no processo que estava estudando, tão absorta nos meus pensamentos, que tomei um susto com o tinir do telefone.

- Alô, aqui é Dra. Paola.
- Dra. Paola, é Anna. É que Morgana acabou de saiu com o Sr. Francesco, às pressas. Não me deixou dizer nada. Quando insisti que você queria vê-la ainda hoje, ela me reprovou só com o olhar. Disse-me que ela ligaria para você assim que desse.