29 de dez. de 2008

B A R A T A V O A D O R A


Essa noite eram mais de três da manhã e não conseguia pegar no sono. A cama parecia ter espinhos e, a medida em que eu esbarrava neles, soltavam um veneno que fazia adormecer minhas pernas. As coxas, principalmente, formigavam. Os pés coçavam. Senti os braços procurarem, sem lograr êxito, posição sobre a cama.

Acredito que a culpa foi do travesseiro. No Natal deixei o meu na casa de mamãe, por esquecimento. De lá para cá, não tenho dormido bem. O substituto é muito alto, quase nunca usado. Pelo menos por outra pessoa não. Ainda que eu seja maior de idade, vacinada e independente, ninguém dorme na minha cama de casal, a não ser eu. Há anos isso acontece. Depois de meu primeiro (e até agora único) casamento, não houve outro que invadisse. Triste isso, né? Enfim, o fato é que esse travesseiro é novo demais, não foi "socado" o suficiente para estar gostoso, confortador, receptivo.

Quando finalmente os olhos fraquejaram por alguns instantes e os sonhos iniciaram seu trabalho de me levar para ver o mundo, percebi que a noite seria de guerra.

Surgiu diante de mim uma imagem familiar, parecia mamãe. Entre nós, eu e ela, um imenso e vazio corredor, onde surgiam a esquerda e direita, muitas portas, de várias cores.

Se há um bicho que tenho medo é a barata. Pois lá estava ela, voando pelo corredor, enquanto minha mãe a seguia de chinelo em punho. Quanto mais mamãe corria, mais rápido a barata voava em minha direção. Eu absolutamente apavavorada, ficava lá, parada, estática, não conseguia mexer nenhum músculo desse meu corpo inútil.

O barulho das asas era tão alto que ensurdecia, enlouquecia. Queria conseguir levar minhas maõs aos ouvidos e não escutar mais esse zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz, mas nada me obedecia. Queria conseguir levar minhas mãos a maçaneta de alguma porta e fugir dali para nunca mais voltar, mas as mãos coladas estavam dentro dos bolsos.

E, por mais que mamãe procurasse perseguir a barata, na verdade, mais ela a atraia para próximo de mim. No corredor não tinha saída: ou a barata voadora gigante vinha em minha direção ou encontraria o chinelo da morte erguido por mamãe.

Eu olhava deesperada para a maçaneta da porta. Era o máximo que pude me mexer: a menina dos olhos.

Acordei num misto de espanto e alívio por ter acabado tal tortura.

Tento entender... Por que ela representaria pavor? Não há na minha memória lembranças de violência de qualquer tipo, muito menos de chinelo. Nada... Ao contrário, ela sempre fez o tipo "palestrante". Sabe do que falo, né? Aquelas mães que não batem, não gritam, nem se descabelam, dão palestra diante de erros cometidos pelos filhotes. Acho que tenho um pouco disso dela na educação com minha filha.

Será que acordei mesmo?

2 comentários:

John Doe disse...

Sonho louco eim, estou precisando de uns assim sabe, amo sonhos estranhos sem muito significado ou talvez cheiop deles, abre espeço pra minha mente divagar durante todo o dia e até esqueço que o no mundo que vivemos as coisas precisam ser normais e chatas para serem reais...

Ran Omelete disse...

Se eu fosse freudiano, tentaria descobrir o leque simbólico que permeia o seu Inconsciente e com isso interpretaria o seu sonho e, muito provavelmente, descobriria algum complexo irremediável. Mas essa brincadeira não está mais na moda.

Eu não tenho medo de barata e duvido muito que uma pessoa normal tenha medo desse bicho. O que a gente tem é nojo. Oh, bicho nojento... argh!